4 de julho de 1862
Foi a data que ficou ‘inscrita’ como o dia em que Lewis Carroll- autor de Alice no País das Maravilhas - fez o passeio de barco descrito logo no comecinho do livro:
“Juntos naquela tarde dourada
Deslizávamos em doce vagar,
Pois em braços pequenos, ineptos,
Que iam os remos a manobrar,
Enquanto mãozinhas fingiam apenas
O percurso do barco determinar.”
Carroll então passeava com as irmãs Liddell e o reverendo Robinson Duckworth nas águas do rio Tâmisa. Apesar do relato metereológico daquele 4 de julho informar chuvas e não o dia ameno que se cristalizou. Mesmo assim...você não está ouvindo os pássaros gorjeando?
O passeio, por conta de 5 km ficou registrado na história da literatura (segundo registrou W.H.Auden). E sete meses mais tarde segundo anotações do próprio Lewis Carroll foi “Ocasião em que contei a elas o conto de fadas das aventuras subterrâneas de Alice”. Vejamos, então se não foi o próprio senhor Charles Dodgson – esse é o nome real do autor de Alice – o responsável pela deliciosa e inaugural fantasia voluntária que é o ponta pé inicial do livro.
As estórias de Alice – no País das maravilhas e Através do espelho – conforme conta a edição de Martin Gardner em seu The Annotated Alice: Definitive Edition é uma colcha de detalhes curiosos que vão de cantigas megapopulares à época da feitura do livro a menções a marcas de queijo (the Cheshire-Cat) e jogos matemáticos criados pelo próprio Carroll .
A edição sobre a qual me refestelo no momento é tradução da Zahar Editor – de 2001 – comprei e não sei por que deixei pelo meio. Alguns anos depois, resolvi retomá-lo. A prudência me levou a começar do começo.
A narrativa do Dogson me interessa pela simplicidade genial que se mostra no que, ao meu ver, poderia ser classificado como um conto dadaísta por excelência.
Pareceu-me que o livro surgiu como um patchwork atiçado pela incansável curiosidade infantil. Que ao mesmo tempo em que quer ver repetida a estória à enésima potência quer que a ela sejam adicionados fatos inéditos.
E isso se confirma no relato do próprio autor: “... e muitos contos de fadas haviam sido improvisados em benefício delas, quer em momento em que o narrador estava inspirado e fantasias involuntárias saltavam aos bandos ... no entanto nenhuma dessas muitas histórias foi escrita: viviam e morriam como maruins de verão”.
E mais: “numa tentativa desesperada de chegar a um conto de fadas de feição diferente, eu, pra começar, tinha despachado a minha heroína diretamente por uma toca de coelho, sem a mínima ideia do que deveria acontecer depois.”
Capítulos
Eu gosto, e simplesmente gosto do título de alguns capítulos. São intrigantes e nonsense. Claro, não para a mente de uma criança.
“Porco e Pimenta”
É neste em que aparece pela primeira vez o Gato de Cheshire e o seu sorriso enigmático (logo de um queijo celebrado na época), a duquesa – inspirada em Margaret da Caríntia e do Tirol – e o bebê que se revela um porco. Dizem que para o Carroll os menininhos eram como porcos!
Ah, sim no capítulo “Uma corrida em Comitê e uma História Comprida” aparece o querido Dodô – que me deu uma longa e saborosa conversa no msn com meu queridíssimo Franklin.
Vou lembrar também o “A História da Tartaruga Falsa.” Com aquela tartaruga chorooosa que só. A sopa da tartaruga falsa é na realidade, a imitação de uma sopa de tartaruga verde, geralmente feita com Vitela e por isso o ilustrador John Tenniel desenhou uma tartaruga com cabeça, patas traseiras e rabo de bezerro. O “Conselho de uma Lagarta”. Neste último a lagarta que fumava um narguilé em cima de um cogumelo...Adultos e crianças aqui fazem uso do seu próprio entendimento das coisas, não é?
“Quem é você? Perguntou a lagarta
Alice respondeu , meio encabulada: “Eu mal sei, Sir (...) pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças desde então.”
Seria a lagarta um autêntico riponga, baba-cool ou coisa do gênero? Ou simplesmente um parente distante do mestre dos magos?
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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